Minha intenção inicial era escrever sobre o último livro que li: “Pensar é Transgredir” de Lya Luft, além de recomendá-lo por ser sensacional. Porém, alguns acontecimentos obrigaram-me a alterar minha primeira ideia.
Dividirei com vocês a última lição aprendida! Inicialmente, devo confessar que tentei me livrar do medo que sinto ou que todos provavelmente sintam ao desnudar e apresentar aos outros seus sórdidos e perversos preconceitos, fruto de situações vividas e aprendidas em nosso cotidiano esmagador e violento.
Em abril de 2006, havia me mudado para São Bernardo do Campo há apenas seis meses. Estávamos felizes e realizados pela conquista e curtindo o novo. Mas, por um infortúnio, fomos assaltados.
Enquanto, entravamos na garagem de casa, quatro jovens rapazes e uma garota, de no máximo, 20 anos, nos renderam e, em aproximadamente, quinze minutos levaram tudo o que puderam. Meu marido ficou com a roupa do corpo e meu filho sem todos os eletrônicos que divertem as crianças do nosso tempo.
Pavor, tristeza, rancor e revolta tomaram conta de todos os meus pensamentos. Meu único desejo passou a ser vingança. Torcia todos os dias para que me ligassem da delegacia para que eu fosse reconhecer aqueles marginais.
Como estou disposta a revelar meus verdadeiros sentimentos, esforçando-me para não sentir tanto medo do que pensarão a meu respeito, preciso ser honesta na escolha das palavras.
Não me lembro de ter me referido àquelas pessoas como marginais. Fiz muito pior! Dizia para mim e todos os que conviviam comigo: “Espero que os policiais encontrem aqueles desgraçados e acabem com todos. Assim, serão menos cinco porcarias a conviver com pessoas de bem”.
Faz cinco anos que vivi o horror de ter uma arma apontada para a cabeça e, apenas agora consigo pensar naquelas pessoas com outro olhar.
Nos últimos dias, uma pessoa muito querida sofreu uma decepção que alterou meus conceitos e preconceitos, minha visão deturpada, meu ódio oculto e reservado, além de me obrigar a relembrar a situação já descrita. O que me fez muito bem porque conheci de perto a outra posição de toda essa história.
Essa pessoa a que me refiro com muita descrição, por motivos óbvios, recebeu a notícia de que seu sobrinho de apenas 21 anos de idade foi acusado e preso, temporariamente, por praticar roubo à mão armada. Até que a justiça consiga provar o envolvimento deste rapaz no ato criminoso, ele é considerado inocente por todos que o amam e não conseguem acreditar que esse pesadelo tenha qualquer nuance de possível realidade.
Essa situação triste, vivida por uma pessoa que admiro e por quem tenho um carinho especial, me fez pensar nas famílias daqueles que roubaram meu momento de alegria e os objetos que acabará de adquirir.
Provavelmente alguns sofreram ou sofrem tanto quanto essa pessoa querida por mim está padecendo agora por conta da infração ou delito realizado ou não por seu sobrinho.
A dor do desapontamento, da desilusão e da ausência de explicação para tudo o que está acontecendo tem deixado essa conhecida, arrasada, abatida e profundamente magoada e preocupada com seu sobrinho.
Desde então, tenho desejado ardentemente que nenhum policial encontre os envolvidos no roubo da minha casa, que suas mães, tias, primas, pais, irmãos, etc; nunca apresentem um olhar lúgubre, desapontado e apavorado e, por fim que eles e ela possam renovar seus desejos e expectativas, que percebam a existência de outros caminhos a percorrer e que consigam se desvencilhar das garras algozes do crime.
Luciana Fernandes