domingo, 27 de março de 2011

Flores de lótus

O colégio onde ministro as aulas de arte desde fevereiro de 2011, decidiu comemorar com seus professores, funcionários, alunos e pais, o dia da família. Tal evento será realizado no dia 16/04.

Por conta da proximidade do evento, nos últimos dias me pego pensando em algo representativo que possa fazer com meus alunos, para presentear seus entes queridos ou responsáveis no dia da nossa festa.

Meu desejo era de que meus pupilos construíssem um belo presente. Imaginei, em todos os momentos, o quão importante seria realizar algum trabalho manual, para que as crianças fizessem a tarefa proposta, pensando naqueles que são queridos e carregassem o futuro presente de emoção, sensibilidade e boas energias.

Após algumas buscas, encontrei um site na internet que explicava o passo-a-passo do origami da flor de lótus. Encantei-me com a ideia, afinal o crescimento desta flor é belíssimo e repleto de significados que podem, perfeitamente, serem associados ao crescimento educacional de uma criança.

A flor de lótus cresce em total escuridão, seu esforço para alcançar a luz do sol demanda energia e esforço, pois seu caule apóia-se na lama profunda dos lagos e cresce mais do que qualquer outra flor até emergir e abrir suas encantadoras pétalas.

Pensemos em nossas crianças, crescendo na escuridão de um mundo competitivo, recheado de notícias tristes, cruéis e desumanas. Expostas a todos os erros do mundo adulto, suas exigências, obrigações e irritações que nada mais são do que o resultado de um dia absurdamente massacrante.

Diante das melancolias deste mundo, nossas crianças poderiam atolar nesta lama figurativa sem conquistar o sucesso da flor de lótus que cresce em beleza e graça mesmo exposta a tantas adversidades.

Porém, nós, seres humanos, temos a nosso favor a magnífica capacidade de desejar o bem do outro, de nos dedicarmos com demasiada devoção a outro ser, de criar laços afetivos, e compreender o profundo significado da palavra apego, ou seja, somos capazes de amar.

Quando nos damos conta de que temos ao nosso lado e sob nossa responsabilidade pequenos seres, amados, especiais e queridos por nós, é que nos vemos compelidos a zelar pelo desabrochar destas flores de lótus mesmo que estejamos todos quase que afundados em terreno lodoso.

Não podemos nos deixar levar pelas tenebrosas amarguras do nosso mundo. Precisamos buscar o que há de mais belo, aprazível, positivo e amoroso para que continuemos a educar nossos pequenos apoiados em valores primorosos que farão os caules de nossas crianças crescerem tanto até que alcancem a luz e desabrochem inundadas com a capacidade de transformar aquilo que hoje nos causa tantos dissabores.

Estejamos, então, unidos na árdua, porém encantadora tarefa de educar.

quarta-feira, 16 de março de 2011

Danilo Di Manno de Almeida



Ontem, 15 de março de 2011, fui acalmar a barulhenta saudade que se instalará no meu coração, desde que conclui o curso de Pedagogia na Universidade Metodista de São Paulo (UMESP) em junho de 2008. Desde então, desejo fazer uma visita aos mestres que foram importantes para mim durante minha caminhada na UMESP.

O desejo de retornar ao campus da Faculdade de Educação e Letras ficou, até ontem à noite, apenas na pretensão. Porém o convite enviado em minha caixa de e-mail para participar de uma noite de palestras, me deixou tão empolgada que a vontade cedeu espaço para a concretização. Fui!

Cheguei à Universidade com o coração feliz e satisfeito por estar, novamente, no ambiente que lhe acolhe e sana seus anseios! Estava imensamente ansiosa para rever alguns professores e, ainda mais animada com a possibilidade de reencontrar um mestre emancipador, Prof° Dr° Danilo Di Manno de Almeida.

Quando entrei no edifício, recebi a notícia de falecimento do professor Danilo. Tristeza, até então, impensável para mim e todos aqueles que foram ou eram seus alunos, dor inconsolável para seus filhos e esposa, perda irreparável para todos os que poderiam, mais do que aprender, compreender o real e concreto sentido de ética, autoconhecimento, emancipação e subjetividade.

Fiz parte da história do professor Danilo como mestre, orientador e idealizador de uma educação emancipadora, capaz de acabar com a tradicional ideia de que o conhecimento é fruto das sábias explicações dos bons professores e da inteligência de poucos alunos.
Professor Danilo nunca foi “explicador”, jamais ofereceu respostas prontas, pois sabia o mal que poderia causar com tal atitude. Ao contrário, aguçava nossa curiosidade e nos apontava o caminho da busca pelo conhecimento, sem se ausentar.

Ainda que não percebêssemos, ele estava por perto. Buscando a cada dia, novas maneiras de ensinar com o objetivo de garantir que seus alunos, igualmente, sem nenhuma distinção, compreendessem o quanto são capazes.

A certeza de que a capacidade de aprender é para poucos, passava a quilômetros de distância do professor Danilo que partiu, sem se deixar embrutecer ou se transformar no boneco cabeçudo (figura caricaturada, engraçada e provocativa sempre presente na prateleira de sua sala).

A vida é ironicamente e sarcasticamente fugaz, mas aquilo que se aprende e compreende com mestres como Di Manno, não tem absolutamente nada de efêmero ou passageiro. Perpetua e imortaliza pessoas raras e brilhantes como Danilo Di Manno de Almeida.

Estive em suas aulas. Desfrutei desta honra e sinto um orgulho tão grande por isso que a satisfação por ter sido sua aluna aplaca a saudade natural que se inicia.

Luciana Fernandes, emancipada pelo mestre Danilo.

sexta-feira, 11 de março de 2011

Uma lembrança dolorosamente afetuosa!

Hoje, por volta das 12:30, quando acabara de servir o almoço para os meus, uma querida amiga me telefonou com tom apressado na voz, pois conhece minha rotina. Sua afobação ao falar era imensamente conflitante com a emoção que embargava sua voz e o tom melancólico na entonação que dava às suas frases.

Senti, com toda a força da verdadeira afeição que tenho por ela, o quanto precisaria deixar claro que aquela ligação não atrapalhava o andamento dos hábitos cotidianos da minha casa.

Quando ela conseguiu entender que não era sinônimo de incômodo, o desabafo foi claro, sucinto e dolorido. Amargamente ressentido pela saudade que se instalara em seu coração sem causa aparente ou lógica explicação.

O coração desta amiga tão preciosa chorava e lamentava a ausência de sua irmã que partiu aos 22 anos de idade! Cedo demais, inexplicavelmente cedo, dolorosamente cedo para todos os mortais e, principalmente para ela e sua família.

Hoje, a falta do sorriso, do abraço, do ombro e do amor fraterno, fizeram com que minha amiga sentisse a dor da saudade.

Dor como essa, da saudade por aqueles que nos deixaram, é tão sofrível, tão impossível de ser aplacada ou amenizada porque não existem palavras capazes de sufocar o choro contido, o grito sufocado e, até mesmo, certa revolta por não encontrarmos nenhuma explicação plausível que aquiete nosso coração com relação aos prováveis ou possíveis motivos que só nosso Senhor conhece para permitir que uma vida seja interrompida no que consideramos ser o início da melhor fase de uma existência.

Prometi fazer uma oração. Cumpri. Orei como nunca consegui. Fui capaz de honrar com minha palavra por dois fortes motivos: minha alma compartilha comigo a afeição que meu coração nutre por essa pessoa e porque sou capaz de compartilhar com ela essa dor. Também tenho uma irmã mais nova que enche minha vida de alegria. Não saberia onde buscar forças para sorrir sem sua existência terrena. Porém, minha amiga consegue!

Amiga, irmã de alma, você sabe o quanto admiro a capacidade impressionante que Rubem Alves tem para usar as palavras. Segundo esse gênio, “a saudade é a nossa alma dizendo para onde ela quer voltar”.

Sua alma, hoje, lhe sussurrou o quanto gostaria de voltar para o colo de sua irmã, para seus conselhos sábios, seu abraço acolhedor e o quão importante seria ouvir novamente o que ela teria para lhe dizer sobre o momento que você vive agora.

Momento: espaço pequeníssimo de tempo, mas indeterminado; instante; ocasião (Aurélio). Seu momento gera conflitos, te angustia, te faz sentir saudade, sofrer e buscar alento. Porém, ele se resume a uma ocasião passageira, um mero e insignificante instante que logo findará.

Quando esse momento passar, a saudade dará lugar as doces lembranças que farão seu coração sorrir novamente com a alegria e a certeza daqueles que como você, acreditam no reencontro oferecido pela bondade infinita do Pai.

Te abraço com a força do meu pensamento e ofereço todo o meu carinho por meio das palavras.

Amo você!