segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Felicidade

Conheci uma senhora lúcida, um tanto austera, porém docemente amável com seus netos. Dona de memória invejável, cozinheira que nunca vi recorrer aos livros de receitas e contadora de estórias que envolviam macaquinhos vendedores de doces que ainda hoje, no auge dos meus 33 anos povoam minha imaginação.
Dona Dade, como era conhecida, foi responsável por várias de minhas notas altas na disciplina de história durante o colégio. Isso porque adorava me contar peculiaridades sobre acontecimentos que só mesmo alguém nascido em 1915 seria capaz de conhecer. Minha professora de história delirava com descrições tão minuciosas da Revolução de 1930 e vovó Dade ostentava satisfação no olhar quando lhe apresentava o resultado de seus causos.
Recordo-me do aniversário do primeiro ano do meu irmão mais novo. A mesa de doces estava repleta de patinhos coloridos e doces apetitosos, gentilmente preparados por essa senhora. Igualmente deliciosas eram as iguarias que ela preparava todas as quartas-feiras, dia de semana que sagradamente vinha nos visitar.
A distância física e a estranha certeza ilusória de que a morte não alcançará aqueles que queremos bem me acomodou. Visitei pouco minha avó desde que constitui nova família. Mas a bondade divina trouxe vovó Dade até minha casa para um almoço de domingo semanas antes de sua partida.
Neste reencontro minha avó estava visivelmente cansada e me pediu que a levasse para o quintal da minha casa. Excelente escolha.
O dia estava ensolarado, deliciosamente quente e o vento suave e constante ajudava minha avó que já apresentava certa dificuldade para respirar.
Conversamos sobre trivialidades, almoçamos e o café fresco e perfumado colocou ponto final em nosso encontro. Na despedida, olhei para aquela senhorinha sentada no banco da frente do carro que se afastava da minha casa e senti uma tristeza sem explicação aparente. Olhei para meu marido e com a voz embargada, comentei: “É a última vez que vejo minha avó”.
No dia 25/12/2010 recebemos a notícia que meu coração já havia me confidenciado semanas antes.
A dor da saudade que começa a se instalar é duramente conflitante com a amarga constatação de que poderíamos ter feito algo mais. O coração acalma a consciência com suspiros de que todos fizeram por ela tudo o que tivemos condição e disposição de fazer.
Adoro Rubem Alves porque suas palavras, por diversas vezes, acalentam minha alma. “As velas choram enquanto iluminam. Choram por saber que para brilhar é preciso morrer”.
Luciana Fernandes

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Singelo Natal

Desde o começo desta semana tenho sentido uma sensação de alívio, de dever cumprido, êxito na tarefa que deveria realizar. Perguntei-me por diversas vezes por que me sentia  aliviada, tranquila, serena, inexplicavelmente em paz e, fiquei satisfeita por “descobrir” que essa impressão se justificava por ter conseguido, pela primeira vez em vários anos, comprar todos os presentes de Natal.
Curiosamente, depois de ter encontrado a explicação que buscava, passei a ficar angustiada. Afinal, adoro presentear aqueles que amo ou tenho algum apreço especial. Então, como poderia estar sentindo-me livre de um estorvo?
Quando criança, esperava muito pela véspera de Natal, quando meu pai passava a manhã comigo e meu irmão no escritório. Ambiente mágico, cheio de botões barulhentos, papéis, canetas e pessoas nos achando engraçadinhos. A manhã do dia 24 de dezembro era só nossa com papai cheio de paciência e empolgado com a noite que se aproximava.
Após o almoço, o martírio das crianças e meu, iniciava-se. Começávamos a contar o tempo, que teimava em não passar, à espera do horário que poderíamos abrir os presentes.
Quando adulta, um pouco daquela mágica se perdeu em algum lugar que não sei identificar. O encanto do Natal cedeu espaço para as obrigações do natal, minúsculo mesmo porque data como esta que nos preocupada e inquieta não é Natal.
Mas, como já escrevi anteriormente, este ano fui tomada por delicada paz. Esse momento tênue foi responsável pela antecipação nas compras e não o contrário, ou seja, minha serenidade não é fruto de estar com todos os presentes empacotados, mas de ter me reencontrado com a magia e a pureza do significado desta data e de ter permitido que as sensações da infância retornassem.
Acredito que pela primeira vez, estarei em contato com o divino que paira sobre nós nesta época do ano. Pois, misteriosamente, olho para os presentes que comprei e enxergo ouro, mirra e incenso. Percebo a simbologia da entrega dos presentes como lembrança do verdadeiro sentido que o Natal deveria ter em nossas vidas.
Neste ano, entregarei cada brinquedo, roupa e calçado para os meus, recordando-me do menino Jesus, envolto em panos, deitado na manjedoura, recebendo por intermédio dos seus pais os presentes trazidos pelos Reis Magos.
Desejo que a fé que se inicia em minha vida possa me oferecer tantos outros finais de ano significativos como esse e que meus lindos filhos, maiores presentes de Deus em minha vida, possam sentir sempre a doce e agradável paz que o Natal propicia àqueles que compreenderam com o coração e a alma seu verdadeiro significado.
Feliz e verdadeiro Natal para todos.
Com carinho,
Luciana Fernandes.

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Bolo de Natal

Ontem à noite passei alguns horas extremamente agradáveis na companhia de verdadeiras amigas. Sabe aquelas pessoas tão especiais que você chega a desacreditar que existam? Pois então, no ano de 2010 tive o privilégio, a grande oportunidade de conhecer seres incríveis: Adriana, Cristiane, Marcia e Sueli (que, na verdade, reencontrei).
Para demostrar meu carinho, preparei para elas a receita que compartilho com você que frequenta meu blog.
Feliz Natal! Espero, com muita sinceridade, que neste Natal você possa estar ao lado daqueles que lhe são especiais. Forte abraço!

Bolo de Natal

3 xícaras (chá) de farinha de trigo
1 xícara (chá) de açúcar refinado
½ xícara (chá) de óleo
1 xícara (chá) de leite
2 ovos
1 colher (sopa) cheia de fermento em pó
50g. de amêndoas (trituradas)
50g. de avelãs (trituradas)              
50g. de nozes (trituradas)
100g. de uvas passas pretas
1 xícara (chá) cheia de maças vermelhas bem picadas (sem casca)
½ xícara (chá) de conhaque

Bata em batedeira, na velocidade média, o leite, os ovos e o óleo, até que a mistura esteja levemente espumante. Acrescente o açúcar e bata mais um pouco, até que você perceba que a mistura está bem incorporada. Coloque aos poucos, sem deixar de bater, a farinha de trigo e bata bem. Com a batedeira desligada, misture delicadamente o fermento em pó, todas as frutas secas, a uva passa, a maça e o conhaque.
Leve em forma untada e enfarinhada ao forno pré-aquecido 180°C  até que o bolo esteja levemente dourado e espetando um palito de dente no centro do bolo, o palito saia seco.
Caso você tenha vontade de presentear alguém especial, basta dividir a massa em porções pequenas. É possível preparar 24 cupcakes com essa receita. Para isso você precisará de forma para cupcake e forminhas de papel número zero.









Depois de assados, retire seus cupcakes do forno e os deixe esfriar antes de embalar. É preciso deixá-los esfriar sobre uma superfície vazada para que não “transpirem” e fiquem amolecidos.
Decore com criatividade e carinho!
 

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Qual a dificuldade em executar nossas leis?

Tenho acompanhado alguns casos de grande repercussão envolvendo violência extrema contra mulheres e questiono qual o valor das leis em nossa sociedade? Quando digo “valor” penso e refiro-me a legitimidade dos parágrafos e artigos de nossa Constituição Federal, a importância que nossas leis ocupam no cotidiano da nossa Nação e os motivos que possibilitam as diversas interpretações e significados, por vezes obscuros, de leis que ao olhar dos não magistrados têm apenas único sentido.   
Aqueles que frequentam virtualmente este blog e leem os textos que publico sabem que sou pedagoga por formação, exercendo a função de mãe, porém diante da introdução da Lei 11.340 de 7/08/2006 que transcrevo abaixo há espaço para qualquer dúvida quanto à interpretação?

 Art. 1o  Esta Lei cria mecanismos para coibir e prevenir a violência doméstica e familiar contra a mulher, nos termos do § 8o do art. 226 da Constituição Federal, da Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Violência contra a Mulher, da Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher e de outros tratados internacionais ratificados pela República Federativa do Brasil; dispõe sobre a criação dos Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher; e estabelece medidas de assistência e proteção às mulheres em situação de violência doméstica e familiar.

A Lei 11.340 decretada pelo Congresso Nacional e sancionada pelo presidente Lula, é conhecida como Lei Maria da Penha e objetiva proibir que o agressor se aproxime da mulher agredida e dos possíveis filhos, exigir sua saída do domicílio, decretar prisão preventiva e aumentar o tempo máximo de detenção de um para três anos.
Considero a decisão de sancionar tal Lei sabia e importante para garantir o mínimo de segurança para as mulheres que têm seus direitos mais básicos violentados por seres quase que irracionais e incapazes de encontrar solução pacifica para a resolução de seus problemas pessoais ou familiares.
Mesmo conseguindo compreender e entender a pretensão da Lei Maria da Penha, continuo me perguntando por que ela precisou ser decretada e sancionada? Veja o motivo da minha dúvida.
O artigo 5° da Constituição brasileira diz que “todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade”.
Pois bem, se todos os brasileiros são iguais perante a lei e têm direito à vida e segurança por que foi necessária a criação de uma nova Lei que garante estes mesmos direitos às mulheres? Por ventura, as mulheres não fazem parte do todo quando se referem aos brasileiros e estrangeiros residentes no país?
Porém, mais grave do que a necessidade de se buscar garantir o já afirmado é o não cumprimento tanto do artigo 5° quanto da lei 11.340.
No dia 23 de maio de 2010 a advogada brasileira Mércia Mikie Nakashima foi encontrada morta dentro do seu carro na represa de Nazaré Paulista em Atibaia (interior de São Paulo). O acusado de assassinato é o também advogado e ex namorado da vítima, Mizael Bispo. Segundo Claudia Nakashima, irmã de Mércia, a advogada assassinada tinha medo e ódio de Mizael.
Já em 4 de julho de 2010, a modelo Eliza Samudio, encontrou-se com seu ex amante, o goleiro Bruno,  em Esmeraldas (Minas Gerais) e desapareceu. Segundo descrições do caso publicadas em diversos veículos da imprensa nacional, a modelo já havia prestado queixa contra Bruno por cárcere privado, espancamento e por obrigá-la a ingerir substâncias abortivas. Em nota à imprensa, Eliza afirmou que as agressões aconteceram por ela exigir que o goleiro Bruno reconhecesse a paternidade do único filho dela, na época com 4 meses de vida.
Em 2009, quando Eliza estava grávida de cinco meses, determinada juíza, responsável por atender ao pedido de proteção, negou a solicitação feita pela modelo alegando que ela não tinha relacionamento estável com o suposto agressor. Tal juíza só esqueceu de considerar que a moça estava grávida e alegava que o bebê era fruto de um envolvimento amoroso com Bruno.
A lei existe para nos proteger, para garantir nosso direito á vida. Então, quais foram os motivos que levaram a justiça ao descumprimento da lei? Será necessário decretar e sancionar novas leis para que estejamos protegidos diante de ameaças concretas?
Sempre que ouço algum dado novo sobre os casos mencionados fico pensando como estariam essas moças hoje e quão feliz seria o natal, que se aproxima, para suas respectivas famílias. Chego a divagar sobre a possibilidade de suas vidas estarem asseguradas pelo Estado caso o mesmo tornasse efetiva cada lei criada.
Luciana Fernandes.

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Receita de pão caseiro

Tenho dividido com vocês meus pensamentos, mas considerei justo (até mesmo com o nome do blog) compartilhar as gostosuras que preparo em casa. Começo hoje com uma receita de pão que sempre dá certo e é responsável por suspiros e pelo odor sensacional que invade a casa quando o pão está pronto e quentinho! Abraços!


Receita básica de pão

Com essa massa podemos rechear o pão, substituir um pouco da farinha de trigo refinada por integral (por exemplo, retiramos 400 gr. do total de farinha da receita e adicionamos essa quantidade de farinha integral) ou ainda, acrescentar na massa qualquer fruta seca, como nozes, castanha de caju, macadâmia, etc.

50 gr. de fermento biológico fresco ou 2 pacotes (10 g. cada) de fermento biológico seco)
½ xícara de (chá) de açúcar
2 xícaras de (chá) de leite
2 ovos inteiros
1 xícara de (chá) de óleo
1 colher (chá) de sal
Aproximadamente 1 kg. de farinha de trigo

Dissolver o fermento com um pouco de açúcar e acrescentar 1 xíc. de leite e a mesma medida de farinha de trigo. Misturar bem. Deixar crescer até dobrar de volume ou espumar (esse primeiro crescimento com apenas alguns dos ingredientes recebe o nome de esponja). Acrescentar o restante do leite e os demais ingredientes. Adicionar a farinha aos poucos até que a massa desgrude com facilidade da mão.
Deixe crescer novamente. Modele e deixe crescer até dobrar de volume (fermentação final). Leve em forno médio (180 C°) até que os pães estejam dourados.

É possível modelar o pão da maneira que você quiser ou colocar a massa toda em uma única forma. Te desejo excelente refeição!

Hoje, infelizmente, recordei!

Hoje, por indicação de uma amiga, assisti a um vídeo de pregação do Reverendo Caio Fábio realizado em 06/01/2005 no Caminho de Graça em Brasília. Neste vídeo Caio apresentava para o público que o assistia a parábola do semeador (Mateus 13).
Entender os símbolos que existem nas parábolas, não é tão simples quanto possa parecer. Os verdadeiros sentidos e propósitos destes “contos” estão repletos de significados ocultos nas palavras que nos levam a imaginar uma determinada situação.
Nossa capacidade imaginativa é aguçada assim que a estória começa e é exatamente neste momento que corremos o enorme e quase que inevitável engano de nos perdermos nas diversas e possíveis interpretações que cabem nas parábolas contadas por Jesus.
O fato é que, enquanto escutava Caio Fábio contar a parábola do semeador encontrei-me dispersa e divagando em minhas memórias. Recordei de alguns fatos vividos que caberiam muito bem, no que acredito ter compreendido, como o principal sentido pretendido por Jesus na estória contada.
Durante vários anos creditei minhas dúvidas, inquietações, pensamentos, sonhos e revoltas a uma pessoa que me parecia viver o Evangelho da maneira mais pura e real que alguém poderia. Umas das principais razões para ter escolhido este alguém para compartilhar meus assuntos íntimos e por vezes delicados, foi o fato de imaginar e supor que o Evangelho (absolutamente desconhecido por mim até hoje) tivesse encontrado moradia em seu coração.
Porém, acabei, depois de muitos anos, constatando o quanto as palavras e conselhos proferidos eram dolosos.
O que pretendi ao, brevemente, relatar a dor que senti com a constatação de ter vivenciado uma enorme mentira, é que estar constantemente no templo ou decodificar a palavra de Deus, não significa nem de longe ter conhecimento ou compreensão da Palavra.
Ser apresentado ao Evangelho não é o mesmo que estar disposto a permitir que o Evangelho viva em você. As sementes de Deus ou suas palavras são lançadas em solos com as características mais diversas. A diferença que as sementes provocarão em cada ser está, unicamente, nas condições, intenções ou estado que essas sementes encontrarão no interior de cada pessoa.
Mais do que conhecimento, a semente do Senhor precisa de propósito firme e vontade verdadeira para produzir fruto. Necessita de sinceridade que anos de “igrejismo” nunca será capaz de oferecer a ninguém.
Luciana Fernandes

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

É possível exigir respeito?

Alguns acontecimentos recentes provocaram–me estupefação!
No dia 14 de novembro de 2010 um grupo de delinquentes e prováveis homofóbicos agrediu três jovens na Avenida Paulista (SP). Uma das vítimas foi ferida com certa gravidade por golpes covardes com uma lâmpada fluorescente. Em 25/11/2010 Edson Cesariano, homossexual, foi brutalmente atacado em Fortaleza pelo advogado Fabrício Franco. Na madrugada do dia 06/12/2010 dois amigos (Gilberto Tranquilino da Silva e Robson Oliveira Lima) voltavam de uma boate na região da avenida Paulista, em São Paulo, quando foram abordados e cruelmente atacados por alguns jovens que se aproximaram gritando: “desgruda, desgruda”. Segundo as vítimas a ordem gritada e a pancadaria aconteceram porque os amigos caminhavam abraçados.
As atitudes descritas aconteceram por aversão, preconceito ou possível ódio aos homossexuais. Esses sentimentos são típicos da homofobia, o medo irracional que algumas pessoas nutrem àqueles que têm uma opção ou conduta sexual que difere da heterossexual. Segundo vários psicólogos, psiquiatras e médicos respeitados no mundo acadêmico, como Dráuzio Varella, Klecius Borges, Alexandre Saadeh e Nilda Jock, alguns indivíduos apresentam tal fobia porque não encontraram sua inclinação, opção, identidade ou personalidade sexual. São pessoas que não conseguem resolver suas dúvidas, que guardam no âmago de suas almas um desejo reprimido o que gera mágoa, medo, insegurança e revolta exacerbada por meio da violência proferida por palavras ou ataque físico.
 
Os que se sentem ultrajados pela presença de homossexuais que procurem no âmago das próprias inclinações sexuais as razões para justificar o ultraje. Ao contrário dos conturbados e inseguros, mulheres e homens em paz com a sexualidade pessoal aceitam a alheia com respeito e naturalidade. (Dráuzio Varella – Folha de São Paulo/Coluna Ilustrada de 4/12/2010).

Para os pouco ou nada providos de informação, a homossexualidade sempre apareceu em relatos históricos e negar fatos historicamente documentados é o mesmo que negar a ciência. Acredito que nem o mais estúpido dos homofóbicos seria audacioso o bastante para desconsiderar os descobrimentos científicos comprovados.
No período grego antigo, época de Platão, os homens relacionavam-se afetiva e sexualmente enquanto as mulheres atravessavam seu ciclo menstrual. Em Esparta os soldados mantinham relações amorosas com consentimento e incentivo da sociedade que defendia esse comportamento como benéfico para o povo espartano que teriam seus soldados lutando por seu estado, mas também, pela sobrevivência de seu companheiro. Na Índia os deuses eram bissexuais, fato que colaborou para a aceitação social da bissexualidade até a ocupação britânica e na antiga China os casamentos entre homens e mulheres visavam apenas à procriação, porém todos eram livres para manterem qualquer tipo de relação extraconjugal, sem nenhuma ressalva.
O fato é que o comportamento ou inclinação homossexual é tão antigo e evidente quanto o heterossexual. A mudança na aceitação e no modo como tal comportamento era visto aconteceu durante os anos de existência da humanidade e ao meu entender no retrocesso humano que passou a considerar o homossexual como pecador, criminoso e doente.
Amar, compreender, querer bem, sentir empatia, vontade de estar junto e de compartilhar é tão mais complexo e sublime do que se identificar sexualmente com outro ser do mesmo sexo.
Ninguém, nenhum ser, hetero, homo ou bissexual passa o dia inteiro mantendo relações sexuais. Portanto, todas as relações sejam quais forem são baseadas em convivência, divisão de tarefas e responsabilidades, troca de experiências, companheirismo e dedicação.
Somos pequenos, ínfimos e desprovidos de entendimento suficiente para compreender em sua totalidade a complexa construção da sexualidade nos indivíduos.
           Sejamos, então, ao menos, racionais o bastante para aceitar e respeitar o próximo que ama e sente tanto quanto eu e você.

Luciana Fernandes.

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Apenas mãe e dona de casa

Iniciei este blog no dia 07/12/2010 por insistência do meu filho, que por sinal me ensinou os passos para a criação desta página virtual, mas também, porque algumas vezes sinto-me sufocada por questões que povoam minha cabeça de mulher, filha, irmã, esposa e mãe. Além disso, acredito que outras pessoas podem se identificar com meus conflitos, sonhos, ideias e opiniões.
O primeiro texto postado neste blog nasceu depois de assistir um vídeo sugerido por uma amiga, então as palavras foram aparecendo e escrevi. Mas desde ontem me pergunto por que não expliquei como surgiu o nome do blog?
Pois bem, minha intenção era mostrar, a quem se interesse que mulheres cuidadoras de seu lar, marido e filhos sabem raciocinar, dialogar com seus pensamentos e manifestar suas concepções. Estar dona de casa ou ser não anula a essência das mulheres e não as fazem menos ou mais inteligentes do que qualquer outro ser. Afinal, donas de casa também pensam!
Em março de 2009 recebi em minha caixa de e-mail um artigo assinado pelo presidente da OAB–SP (Luiz Flávio Borges D´Urso) que parabenizava as mulheres por todas as conquistas asseguradas desde a Revolução Industrial. Em determinado trecho deste artigo, Luis Flávio dizia que “desde os tempos que elas deixaram de ser apenas donas-de-casa para encarar a labuta nas insalubres indústrias no final do século 18, os desafios foram sendo ampliados e as conquistas estabelecidas”. Por que apenas donas de casa?
Esse apenas no texto do presidente da OAB causou-me certo desconforto e inquietude. Diante deste incômodo que não passava fui buscar o significado da palavra apenas nos dicionários que possuo em casa. Vale lembrar que, donas de cada também têm dicionário.
Segundo o dicionário Houaiss de língua portuguesa, apenas significa só, unicamente. O dicionário Aurélio nos apresenta definição quase que idêntica para a mesma palavra: só, somente, unicamente. Não restava nenhuma esperança, de fato, o senhor Borges D´Urso estava se referindo à todas as funções, responsabilidades, afazeres e dificuldades de uma dona de casa como algo reles, ínfimo, pequeno, sem importância. Diante deste apenas só consegui pensar que o presidente da Ordem dos Advogados do Brasil ou não teve mãe presente ou foi cuidado e educado por pessoas que representam um apenas em sua vida. Fazer o quê?
Sigamos em frente, tenho 33 anos, dois filhos, um garoto de 11 anos e uma menininha de 2 anos, frutos de uma união amorosa, amigável e responsável, sou pedagoga, filha, irmã e dona de casa. Mulher independente, livre e realizada.
Muitos perguntarão como posso me declarar independente se digo que sou dona de casa e, provavelmente devo ter minhas necessidades econômicas providas por um marido?
Independente porque tenho minhas ideias, sonhos, convicções, desejos e anseios. Sou livre da sujeição de outrem. Minha personalidade não está subordinada a alguém. Logo, sou livre e independente.
Sou também realizada porque escolhi, optei, decidi estar em casa com meus filhos, vê-los crescer, auxiliá-los nas tarefas de casa, preparar para os dois alimento saudável e balanceado, sentir aquele cheirinho doce e inigualável que só as crianças têm quando saem do banho, dizer bom dia e boa noite sabendo que estive presente, que acompanhei mais um dia que não voltará de maneira alguma, mesmo que tivesse toda a independência financeira de uma grande executiva.
Independência vai muito além do estar inserida e engolida pelo mercado de trabalho competitivo e alucinante que arranca o bebê do seio de sua mãe aos quatro meses de vida, ou melhor, desde 2008 aos seis. Mas essas leis são sancionadas porque não é importante a mãe ser apenas mãe, não é mesmo?
Donas de casa e mães por opção, escolha ou realização pessoal, voltar ao mercado exige coragem, força de vontade, garra, determinação e competência. Tais qualificações ou habilidades estão muito aquém de experiência ou tempo de trabalho. São atributos natos, mas que podem ser adquiridos diante do seu desejo.
 Posso dizer, diante de toda a minha insubordinação que sou corajosa, desprendida, segura e inteligente o bastante para escolher ser apenas mãe ou dona de casa como queiram chamar.
Luciana Fernandes.

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Livre de rituais impostos e desnecessários

Assistir Caio Fábio falar sobre batismo, me fez pensar em todos os rituais cristãos que fui submetida durante minha infância e adolescência. Batismo com poucos meses de vida na igreja católica, aulas de catequese nas manhãs ensolaradas de sábado, enquanto minhas amiguinhas brincavam na rua de terra, crisma no início da minha adolescência quando o que mais queria era curtir algumas horas de nada.
Mas, felizmente os anos passam e ganhamos autorização para escolher o que queremos, no que acreditamos e com quais sacramentos e rituais queremos comungar. Fiz a opção de romper com tudo que me direcionasse ou me obrigasse a seguir regras absurdas para pertencer a um grupo religioso. Conclusão, tinha as noites de sábado e manhãs de domingo para ser livre. Explicarei porque me sinto livre desde então.
Segundo o dicionário Aurélio da língua portuguesa, batismo significa “admissão solene no grêmio de uma religião ou seita; iniciação”, já o dicionário Houaiss descreve o batismo como “um rito de passagem, feito normalmente com água sobre o iniciado através da imersão, efusão ou aspersão”.
Pois bem, como poderia estar pronta para ser admitida em qualquer religião, ceita ou doutrina ou ser submetida a um rito de passagem com poucos meses de vida?
Poderia ter busacdo essa admissão ou passagem na fase adulta, mas sempre questionei qual era o sentido destes momentos, que significado teriam em  minha vida? Nunca encontrei resposta satisfatória ou que me deixasse empolgada o bastante para aceitar o pacote que viria depois destes rituais oferecidos aos montes nas centenas de igrejas e templos que encontramos espalhados oferecendo salvação e redenção.
Sempre me apavorou o depois, pois cansei de ver amigas convertidas a alguma religião que de fato as transformaram, ou melhor que conseguiram a proeza de as fazer desertarem suas ideias, utopias e ideologias e abandonarem suas personalidades. Fiquei sem minhas amigas de infância, mas passei longe da possíbilidade de sofrer qualquer espécie de transfugação. Portanto, me senti livre, fui livre desde então e continuo disponível  para tudo que julgar necessário ou importante para minha vida ou daqueles que me são preciosos.
Posso concordar com Jesus e seus ensinamentos sem estar presa ou vinculada a algum tipo de devoção ao que foi instituido por homens como prioritário para minha iniciação ao Evangelho.
Não preciso que ninguém derreme água ou óleo sobre minha cabeça ou corpo para que possa beber ou me lambuzar da Palavra. Basta ir até a cozinha da minha casa, pegar um pouco de água filtrada, passar em minha fronte e dizer à minha alma que aceito Jesus como meu Deus, meu Senhor e meu Pai.
Aceitar Jesus e concordar com Ele em todos os sentidos de nossas vidas é infinitamente mais díficil e complexo do que deixar que alguém derrame líquido em você e te diga que daquele instante em diante você vive com Jesus e como ele e que está apto a conhecê-lo.
É mais fácil, menos custoso e doloroso aceitar o instituido pela igreja ou templo do que buscar a inalcansável tarefa de aceitar e concordar com Jesus em plenitude. Afinal, valsculhar a alma em busca de suas mazelas e verdades dói e provoca uma revolução sem volta. Então ouvir de alguém que você está salvo e livre de todos seus pecados originais e cometidos oferece falsa sensação de alívio e libertação. Prefiro a dor da coragem!
Luciana Fernandes.

Sermos parecidos com Jesus from Cláudio do Caminho on Vimeo.