sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

É possível exigir respeito?

Alguns acontecimentos recentes provocaram–me estupefação!
No dia 14 de novembro de 2010 um grupo de delinquentes e prováveis homofóbicos agrediu três jovens na Avenida Paulista (SP). Uma das vítimas foi ferida com certa gravidade por golpes covardes com uma lâmpada fluorescente. Em 25/11/2010 Edson Cesariano, homossexual, foi brutalmente atacado em Fortaleza pelo advogado Fabrício Franco. Na madrugada do dia 06/12/2010 dois amigos (Gilberto Tranquilino da Silva e Robson Oliveira Lima) voltavam de uma boate na região da avenida Paulista, em São Paulo, quando foram abordados e cruelmente atacados por alguns jovens que se aproximaram gritando: “desgruda, desgruda”. Segundo as vítimas a ordem gritada e a pancadaria aconteceram porque os amigos caminhavam abraçados.
As atitudes descritas aconteceram por aversão, preconceito ou possível ódio aos homossexuais. Esses sentimentos são típicos da homofobia, o medo irracional que algumas pessoas nutrem àqueles que têm uma opção ou conduta sexual que difere da heterossexual. Segundo vários psicólogos, psiquiatras e médicos respeitados no mundo acadêmico, como Dráuzio Varella, Klecius Borges, Alexandre Saadeh e Nilda Jock, alguns indivíduos apresentam tal fobia porque não encontraram sua inclinação, opção, identidade ou personalidade sexual. São pessoas que não conseguem resolver suas dúvidas, que guardam no âmago de suas almas um desejo reprimido o que gera mágoa, medo, insegurança e revolta exacerbada por meio da violência proferida por palavras ou ataque físico.
 
Os que se sentem ultrajados pela presença de homossexuais que procurem no âmago das próprias inclinações sexuais as razões para justificar o ultraje. Ao contrário dos conturbados e inseguros, mulheres e homens em paz com a sexualidade pessoal aceitam a alheia com respeito e naturalidade. (Dráuzio Varella – Folha de São Paulo/Coluna Ilustrada de 4/12/2010).

Para os pouco ou nada providos de informação, a homossexualidade sempre apareceu em relatos históricos e negar fatos historicamente documentados é o mesmo que negar a ciência. Acredito que nem o mais estúpido dos homofóbicos seria audacioso o bastante para desconsiderar os descobrimentos científicos comprovados.
No período grego antigo, época de Platão, os homens relacionavam-se afetiva e sexualmente enquanto as mulheres atravessavam seu ciclo menstrual. Em Esparta os soldados mantinham relações amorosas com consentimento e incentivo da sociedade que defendia esse comportamento como benéfico para o povo espartano que teriam seus soldados lutando por seu estado, mas também, pela sobrevivência de seu companheiro. Na Índia os deuses eram bissexuais, fato que colaborou para a aceitação social da bissexualidade até a ocupação britânica e na antiga China os casamentos entre homens e mulheres visavam apenas à procriação, porém todos eram livres para manterem qualquer tipo de relação extraconjugal, sem nenhuma ressalva.
O fato é que o comportamento ou inclinação homossexual é tão antigo e evidente quanto o heterossexual. A mudança na aceitação e no modo como tal comportamento era visto aconteceu durante os anos de existência da humanidade e ao meu entender no retrocesso humano que passou a considerar o homossexual como pecador, criminoso e doente.
Amar, compreender, querer bem, sentir empatia, vontade de estar junto e de compartilhar é tão mais complexo e sublime do que se identificar sexualmente com outro ser do mesmo sexo.
Ninguém, nenhum ser, hetero, homo ou bissexual passa o dia inteiro mantendo relações sexuais. Portanto, todas as relações sejam quais forem são baseadas em convivência, divisão de tarefas e responsabilidades, troca de experiências, companheirismo e dedicação.
Somos pequenos, ínfimos e desprovidos de entendimento suficiente para compreender em sua totalidade a complexa construção da sexualidade nos indivíduos.
           Sejamos, então, ao menos, racionais o bastante para aceitar e respeitar o próximo que ama e sente tanto quanto eu e você.

Luciana Fernandes.

2 comentários:

  1. Lu,


    Sua última frase é emblemática e resumi muito bem o meu único dever enquanto ser humano.

    Quanto a sociedade grega, tenho algumas percepções sobre aquele funcionamento, vejo Platão e outros filosofos defensores do homossexualidade, muito mais como estadistas defendedno uma forma otimizada de se manter o poder.

    Não os vejos como apaixonados por seus pares.
    A guerra era sagrada, as demais coisas da vida deveriam ser mantenedoras do bom funciomaneto da mesma.

    Quem está pecando deliberadamente, quem vai para o inferno não é de minha alçada saber, muito menos vaticinar o desfecho da história de vida de ninguém.

    "É abominação aos olhos de Deus", pois bem, eu posso usar esta crença como um funil perverso para massacrar todo aquele que é diferente, ou posso escolher entender a dor de quem sofre por ser diferente.

    Alguns textos biblicos servem como Mein Kampf servia ao Hitler, sendo que na verdade a Biblia serve a Jesus e não o contrário, portanto o amor vem primeiro, o resto é adendo.

    beijocas reverentes

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  2. A cada leitura, do seu blog, me encanto mais, (como se isso fosse possível). Essa é uma conduta tão desrespeitosa,que não conseguimos entender como jovens, de classe média alta, estudados,e que deveriam vir de famílias estruturadas, preparadas para ensinar os seus filhos a respeitar as diferenças, para que todos pudessem viver com igualdade, estão agindo de maneira tão brutal. Isso me assusta.

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